O almoço das segundas – feiras de São Paulo têm, pelo menos, a opção do tradicional virado à paulista. Um prato que ultrapassou fronteiras, chegando à Minas Gerais e influenciando na criação do tutu de feijão, tem uma interessante história de surgimento que, verdade seja dita, contou com um pouco de sorte para que ultrapasse os séculos e chegasse aos dias atuais. (a ver no final do texto).
Segundo registros, é o prato mais antigo da gastronomia de São Paulo. Criado na época das bandeiras, o que não faltam são referências e registros que falem de seu surgimento. Em uma das muitas referências pesquisadas, em especial a que se pode ver neste link, o escritor gastronômico português, Virgílio Nogueiro Gomes, autor da obra Tratado do Petisco e das Grandes Maravilhas da Cozinha Nacional, disse que: “(O prato)Deve ter influência portuguesa, mas não há receita lusitana que se pareça com ele. Lembra vagamente nosso bife com ovo a cavalo, porém este surgiu mais recentemente, nos cafés de Lisboa.”
A estimativa dos estudiosos da história da gastronomia é a de que o prato surgiu espontaneamente. Quando realizavam as bandeiras, as expedições para o interior do Brasil, os viajantes costumavam carregar recipientes cheios de feijão cozido, farinha de milho, carne-seca e toucinho. Com o chacoalhar da viagem, os ingredientes ficavam virados (daí o nome) e acabavam se misturando. Vale dizer que a utilização da carne de porco advinha da alta disponibilidade desse ingrediente no estado.
O cronista gastronômico Sérgio de Paula Santos, no livro Memórias de Adega e Cozinha, lembra que a mais antiga referência documental ao virado é de 1602, quando Nicolau Barreto realizou a expedição aos atuais territórios do Paraguai, Bolívia e Peru. O explorador Francisco José de Lacerda e Almeida, em seu Diário da Viagem Pelas Capitânias, experimentou o prato em 1788 e o chamou de guisado, qualificando-o de “o melhor do mundo”.
A pesquisadora Maria de Lourdes Borges Ribeiro, no livro na Trilha da Independência relata que d. Pedro I, na viagem do Rio de Janeiro a São Paulo, quando deu o Grito do Ipiranga, comeu virado a 17 de agosto de 1822, na Fazenda Pau d’Alho, de São José do Barreiro, Vale do Paraíba.
Outra curiosidade da iguaria é que os bandeirantes foram os responsáveis por levar o virado para o estado de Minas Gerais, onde o prato se transformou no tutu à mineira.
Por fim, o prato mais famoso de São Paulo virou patrimônio imaterial do estado.
A receita foi tombada em 6 de fevereiro de 2018 e reconhecida como bem cultural pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Governo do Estado de São Paulo (Condephaat).
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